segunda-feira, julho 06, 2009

Detalhes

Eu gosto de detalhes. Muito. Tenho plena noção da importância da floresta, mas não consigo deixar de analisar cada uma das árvores que a compõem. E apesar de saber que aplico esta característica em várias áreas da minha vida (o que, por vezes, me faz pensar que tenho uma personalidade algo obsessiva-compulsiva), onde ela mais se manifesta é na análise física que faço de mim mesma e das outras pessoas.


No que me toca, o ponto extremo foi na adolescência, em que quase enlouqueci a minha mãe com teorias que roçavam a psicose. Cada semana havia uma novidade: “O meu nariz não é proporcional.” (facto quase comprovado mediante uma análise empírica efectuada diariamente), “Queria ter os dedos dos pés todos alinhados.” (a que se seguiu a minha conjectura de que as pessoas não deviam ter dedos nos pés, ficando melhor servidas com umas extremidades semelhantes às dos patos), “Não gosto nada destes ossinhos em forma de bola a meio dos ombros.” (nisto saí ao meu pai), “Porquê que eu não tenho os ossos da clavícula visíveis?” (talvez porque na altura tinha cerca de 13 quilos a mais… agora já se vêem), “As minhas pernas em baixo parecem dois palitos.” (o que adorava ter umas barrigas das pernas gordas e torneadas…), etc., etc. Agora já aprendi a descartar estas minudências (até para não ficar completamente biruta), mas isto não significa que não continue exaustivamente à procura de cabelo em ovos.


Quanto aos outros, o processo é idêntico. Passada a primeira impressão, durante a qual o escrutínio é feito a nível geral, eu foco sempre a minha atenção nos detalhes (caso sejam dignos de interesse, por si só ou pela pessoa em causa). Posso não saber dizer se alguém tinha vestido um casaco Versace com brilhantes incorporados, mas sei se o nariz estava alinhado com o queixo e se o tamanho do tronco era proporcional ao das pernas; posso ter achado determinado indivíduo pouco atraente, mas saber que as suas mãos são cuidadas, com dedos elegantes e um aspecto absolutamente irresistível. Partindo destas análises (meramente físicas, sem considerar outras características bem mais importantes e que condicionam de forma determinante a nossa percepção de alguém - não esquecer que “Quem feio ama bonito lhe parece.” ou, na versão inglesa, “Beauty is in the eye of the beholder.”) acabei por definir 5 tipos distintos de aparência (que depois se desdobram em inúmeras combinações):

1 - Pessoas que apresentam traços equilibrados e proporcionais, com a sorte de ainda possuírem determinadas características faciais fortes e belas: olhos rasgados, bocas delineadas, pescoços altos, cabelos fartos, etc. (são aqueles sortudos em quem as partes e o todo são igualmente perfeitos - sim, Brad e Angelina, estou a falar de vocês).

2 - Estas são as pessoas nas quais uma das partes potencia as outras e determina o resultado final (quando os traços já são algo interessantes e equilibrados, mas depois uns olhos fantásticos aumentam o impacto, elevando o indivíduo ao patamar da beleza).

3 - As pessoas que no geral são atraentes, mas nas quais nenhuma das partes sobressai especialmente (nem o nariz, nem os olhos nem a boca são particularmente definidos, intensos ou torneados, mas a conjugação dos 3 resulta numa face interessante, atraente, sexy).

4 - São as pessoas nas quais uma das partes compensa as outras, influenciando o todo (do género “Ela têm um nariz enorme, mas os olhos são espectaculares.” - por norma, quando digo isto, há sempre uma alminha que contrapõe “Está bem, mas não deixa de ser horrorosa.”).

5 - São aquelas pessoas em que nada parece bater com nada, em que não existe qualquer equilíbrio estético, nem qualquer detalhe favorável à vista (as habituais “Não tem ponta por onde se lhe pegue.”).


Como se pode verificar, este é um assunto que me interessa e, sendo assim, acaba por influenciar as minhas relações. Tal como sou perfeitamente capaz de me apaixonar por um pequenino detalhe do corpo de alguém, também sou capaz de me “desapaixonar” da pessoa toda devido a esse mesmo detalhe. E então tudo isto para quê? Só para dizer que o meu anjo tem 2 destes detalhes que há muito me fascinam: uma boca incontornável (que de “detalhe” não tem nada: carnuda, suculenta, promessa das mais intensas delícias) e umas pequenas obras de arte sob a forma de orelhas (eu adoro orelhas! Mas têm de ser como as deles: redondinhas, torneadas, hipnóticas, perfeitas espirais de búzio marítimo… um encanto). E, detalhe a detalhe, lá vou tendo com que me entreter.


Imagem: retirada do site www.allposters.com (“A aparição da face de Afrodite”, de Salvador Dali)

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2 Comentários:

Às 7 de julho de 2009 às 10:39 , Anonymous mary's big nose disse...

...as orelhas?!...AS ORELHAS?! ahahah...muito bom. já sabes, eu é mais...narizes! E os detalhes, esses, também os adoro.

 
Às 7 de julho de 2009 às 14:13 , Anonymous B. disse...

"perfeitas espirais de búzio maritimo"?!!? Quê!?! T'és tola! :P

Beijo

 

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